quinta-feira, 18 de agosto de 2011

postheadericon Estranhamento e Humor no Experimento Pina Bausch (por Tânia Boy)


O Experimento Pina Bausch foi criado com os alunos da pós-graduação da ECA- USP do curso Encenações em Jogo: Experimentos de Criação e Aprendizagem do Teatro Contemporâneo ano 2011 do professor e pesquisador Marcos Bulhões. O pesquisador solicitou a criação de uma cena inspirada no trabalho de Bausch. Assistimos a um fragmento de um filme do espetáculo “Praia” da coreógrafa e o usamos como ponto de partida para a criação da performance.

            Criamos partituras a partir da leitura do filme citado, mas houve ainda, a possibilidade de se valer do trabalho de Bob Wilson  também estudado no curso. As partituras criadas pelos performers foram experimentadas com a música proposta por Bulhões.

            No experimento criado o espaço proposto “uma praia” foi subvertido em diversos momentos da performance. Duas performers trouxeram o lugar “praia” para a cena. Uma vestida com muitas sobreposições de roupa e que paulatinamente se despia e se expunha ao sol, e outra vestida como uma “Pin-up”  parecia procurar algo ou alguém enquanto tomava sol. Os outros elementos presentes na cena traziam estranhamento ao lugar proposto. Estranhamento que para Pina, como destaca Cypriano (2006) em seu trabalho, “nunca gosta de uma imagem bela demais no palco, ela sempre procura encaixar algo que provoque também estranhamento.”

O elementos: carteiro, moça do mancebo, mulher do telefone mostravam ao espectador que ali não era realmente uma praia. Provocando na platéia uma estranha curiosidade em saber o que aqueles seres faziam ali.

            Mesmo as moças que tomavam sol e também a Moça do mancebo em determinado momento usavam um batom de forma não usual. Elas desenhavam em seus corpos usando o batom, retirando-o do seu uso comum.

            Em outra momento o carteiro aparece entregando cartas às moças que tomam sol. No entanto ele não as entrega de fato, mas sim, as rasga e joga os pedaços nas destinatárias das correspondências.

            O fato do carteiro entregar cartas em plena praia foge ao cotidiano e traz estranhamento ao ritual das moças que se expõe ao sol.

            Em outro momento o carteiro lê uma cartinha destinada ao Papai Noel imitando a voz de uma criança. A cena faz surgir sentimentos confusos de inocência, pois é uma criança que acredita em Papai Noel, e de ironia. Em nosso país é comum vermos no final do ano muitas crianças carentes escreverem cartas ao Papai Noel para pedirem o que lhes falta no cotidiano, como: material escolar, emprego para os pais, alimento, roupa e até mesmo a sonhada casa própria. É possível que muitas dessas crianças nem acreditem em Papai Noel, mas esperam que um “milagre” aconteça e elas ganhem algo desejado. Anualmente, o correio faz campanha para que pessoas adotem as cartas e realizem os sonhos dessas crianças.

            A cena criada traz um estranho humor, segundo Cypriano (2006), Bausch defendia o riso dizendo “É preciso rir”, a coreógrafa levava ao palco o que parecia incabível. Ela propunha usar o humor como uma estratégia para abalar certezas e torná-las palatáveis.

            Bausch afirmava:


O humor não é necessariamente relacionado ao chiste, ele é uma forma mais amável de transmitir um conteúdo que em si é mais difícil, complexo.

                                                                                                          (apud CYPRIANO 2006, p. 116)


            O tema presente na cena que é o da criança que acredita e escreve ao Papai Noel é apresentada de forma humorística na performance criando uma ambivalência na situação criada. Para Cypriano (2006, p. 117)


A ambivalência é usada por Bausch como estratégia para abordar temas complexos e levá-los ao palco de forma discreta. Imerso entre a delícia e a desgraça, cabe ao espectador emitir o seu juízo de valor.

           É o espectador da cena que se posicionará quanto ao tema apresentado na performance, concordando ou discordando com a situação que mostra os problemas sociais ainda existente em nosso país.
 

Referências bibliográficas


CYPRIANO, Fábio. (2006) Pina Bausch.  Cosac&Naify Edições. São Paulo.

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